domingo, 14 de novembro de 2010

Sóbria


Tive uma noite péssima, a pior que se pode imaginar. Aquelas caixas de som no volume máximo, as bebidas de fácil acesso. Tudo parecia tão atraente aos meus olhos. Havia decidido que não me entregaria à bebedeira, mas me senti tão livre que resolvi avançar um pouco mais.
Quando dei por mim havia bebido demais e sentia meu mundo rodando. Fui atingida por um súbito enjôo que me levou direto a pia do banheiro, onde despejei brutalmente tudo o que estava me causando aquele mal-estar. Eu podia sentir as mãos dela segurando meus cabelos enquanto eu terminava aquela cena digna de pena. Senti uma dor profunda quando meu sub-consciente tomou conta do meu ser, me obrigando a me desculpar por todos os meus erros. Eu precisava de carinho, do conforto de um abraço amigo e sincero, da paz de um perdão. E sobretudo, eu precisava recuperar aquela amizade. Ele.
Comecei a despejar milhares de pedidos de desculpas. Ele parecia me olhar incrédulo, mas eu não sabia se estava me perdoando, se sentia repulsa ou se ria de mim - pois não me lembro de ter olhado em seus olhos. Quando me dei conta da cena bizarra, a qual eu estava protagonizando, quis morrer, fugir, me esconder para sempre. Comecei a sentir pena de mim, mas eu não sairia dali antes que ele me desse o perdão pelo qual eu tanto ansiava.
Sentei-me e derramei-me em lágrimas. Sentia um misto de dor, angústia, solidão e pena que me consumia internamente. E haviam tantos a minha volta que quase não pude distinguir os que me queriam bem, dos que apenas queriam presenciar a minha decadência, e acabei por acolher a todos. Senti-me a criatura mais miserável do planeta ao constatar meu estado deplorável.
Voltando para casa senti me protegida nos braços daquela que cuidou de mim, que se preocupou, que me amparou. Amiga. Mas eu sabia que os braços daquele amigo, o qual eu tanto queria de volta, eu jamais teria novamente. Adentrei o portão de casa e minha mãe notou meu triste estado: olhos marejados, cheirando a vômito e bebida, e totalmente sem noção de equilíbrio ou direção. Menti dizendo que estava com dores de cabeça e ela me forçou a comer algo. Vomitei. Ela me obrigou a dizer a verdade e me colocou em baixo d'água fria, e despejou um sermão que eu mal pude assimilar. Deitei e dormi.
Acordei e finalmente tive a capacidade de pesar os acontecimentos da noite anterior. Chorei. E então percebi que seria a piada do ano. Eu me resumi ao pó, um lixo, um nada. Quebrei um copo e fiz cortes em meu braço esquerdo na estúpida tentativa, em vão, de desviar a dor. Eu já podia sentir os olhares zombeteiros em mim. Quis morrer ou fugir e nunca mais voltar tamanha era a vergonha que me consumia.
A história da minha vida. Perdi um amigo, fiquei bêbada, decepcionei minha mãe e virei uma vergonha em forma de depressão.

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